1992…

1 fev

Mais de um ano e lá vai fumaça sem postar nada aqui. Hoje eu precisei voltar para postar esse vídeo,  cuja música me arremessou, sem dó nem piedade, em 1992…

 

 

Past recall has been here and gone…

EU FUI! Parte II – Ai, Axl…

8 out

Eu passei quase uma semana lendo e ouvindo que Axl já não era mais o mesmo, e tal e coisa, e passei a mesma semana respondendo que eu também não.  Vinte anos se passaram desde quando eu suspirava por ele, sonhava que teria filhos com ele (Shiloh Blue e Willow Amelia. Rá!), que tinha pôsteres e mais pôsteres, enoooormes, com a foto dele e de toda a trupe no meu quarto. Vin-te a-nos! É muita coisa.

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Na noite anterior ao show eu mal consegui dormir, tamanha era a ansiedade. Eu e ele estaríamos no mesmo quilômetro quadrado, eu iria – finalmente – a um show do Guns n’ Roses (‘Ah, Ju, mas a banda mudou toda!’ – gente pentelha que gosta de jogar balde de água fria na empolgação alheia é issaê mermo! Cacete, foda-se que mudou! Guns pra mim sempre foi Axl e o resto – ok… Axl, Slash e o resto). 

Todo o meio tempo entre minha ansiedade até o começo do show você pode ler no post anterior.

Uma hora depois do show do System of a Down (taqueoparêo, mermão, a gente agüenta cada coisa nessa vida…), nada do filho da puta  fofo entrar no palco. Chovia muito, e eu já imaginando a viadagem: “Não toco na chuva!” Porque Axl tem desses estrelismos irritantes, que eu não aturo em mais ninguém. Amar Axl é o meu lado mulher de malandro. Ele faz coisas que me irritam, desrespeita o público que tem e que o venera, mas mesmo assim eu o amo. Rá! Eu xinguei muito. Vaiei a demora, entrei no coro de “Ei, Axl, vai tomar no cu!”… E aí eu disse pro Ricardo: “Pronto. Agora ele vai demorar mais duas horas só porque a gente tá xingando. Axl é o João Gilberto do rock!” e, continuei: “Filho da putaaaa! Filho da putaaaaa!” Porra, eu tava no meio da muvuca, com aquela capa de chuva de plástico que esqueeeeeeeenta e cola no corpo da gente. Um inferno! E ansiosa… e nada do desgramado aparecer! As pernas estavam pesadas, os joelhos doíam, o sujeito sem camisa da minha frente insistindo em levantar o braço e colocar o suvaco fedido na minha cara… Não tava fácil. Eu ali, me sacrificando para vê-lo e o bonito fazendo doce lá dentro. =/ Ai, que ódeeeeo!

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Mas aí ele entrou no palco. E eu griteeeeeeeei. Griteeeeeeeeeeeei! Gritei mais que adolescente em show do Justin Bieber. Axl, SEU LINDO! Puta merda, meu coração foi a mil! Seria perfeito se ele começasse o show com qualquer outra música que não fosse do Chinese Democracy, que eu não gosto muito, mas àquela hora eu nem estava me importando muito com isso. Me emocionaria até mesmo se ele cantasse Morango do Nordeste. Porque a música, naquele momento, era o que menos me importava pra mim. Eu  estava lá, assistindo o cara cantando ao vivo, e não tinha outro lugar no mundo onde eu queria estar. Estico a cabeça, olho o cara no palco, pulo pra ver mais um pouco, xingo a girafa que estacionou na minha frente, desisto e olho pro telão! E eis que começa Welcome to the Jungle e, ignorando a dor nas pernas, começo a pular, a cantar, e a me lembrar de muita coisa bacana de vinte anos atrás.

O show não foi o melhor show da minha vida, e passou bem longe disso. Solos chatíssimos e intermináveis (Slash, cara… saudade… beijometuíta!),  nunca emendavam uma música na outra, Axl cansadão. Pra quem tava habituada a ver vídeos antigos, onde o cara corria o palco em segundos, vê-lo parado na área, fazendo o Romário, foi um pouco esquisito. MAS, porém, contudo, todavia e não obstante, foi um show inesquecível, porque era ele, porque tocou Estranged (AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHH!!! #MORRI #CHOREEEEEEEI), porque eu estava com o Ricardo, e Guns n’Roses é o única coisa no mundo que nós dois gostamos (de resto, se eu amo, ele odeia. E vice-versa.)

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Eu? Eu continuo amando Mr. William Bruce Bailey. Se ele não é mais Axl Rose, aqueeeeeele Axl Rose, eu não me importo.  O cara fez parte de boa parte da minha vida, cantou muitas vezes pra eu dormir, pra eu chorar,  dançar,  beijar na boca, cantar junto, e ainda hoje consegue me emocionar, me arrancar alguns suspiros e… ai, ai… 😉 Eu me sinto muito feliz por ter estado ali, por poder vê-lo ‘de perto’, eu faria tudinho de novo, passaria até mais perrengue se fosse preciso, pra assistir o mesmo show mais ou menos, pra ver o mesmo Axl velho, gordo e cansado!

Estranged–Rio de Janeiro, 02/10/2011

 

Falem o que quiserem, eu nem ligo. Na alegria e na tristeza, na saúde ou na doença, na beleza ou na baranguice, isso é amor pra vida toda!

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E, 20 anos depois, uma declaração de amor bem adolescente! 😉

EU FUI! Parte I – A Saga

4 out

Vai vendo aí, que o negócio foi punk! Eu não tinha ingresso pro show. A idéia (e deixa meu acento aqui até dia 31/12) inicial era de ir bem cedo pro entorno da Cidade do Rock pra comprar do cambista filho duma ronquifuça, que ia me cobrar os olhos da cara. Só que, no sábado à noite, deu-se a merda: leio no twitter que Axl havia dado um perdido no vôo que o traria para o Brasil e que ninguém mais sabia se o show ia rolar ou não. Filho da puta, esse Axl! Mais filho da puta que o cambista! Daí que eu fui dormir com essa informação e acordei tensa. Fui ter notícias do puto só depois do meio dia.

Eis que começa a minha outra agonia: “e se eu não conseguir comprar os ingressos? Ai, meodeos, eu vou ficar tão frustrada, mas tão frustrada, que eu nem sei…” E assim fiquei até sair de casa, lá pelas 17h (marido vascaíno ficou assistindo o primeiro tempo do jogo do Vasco, e eu ardendo em agonia), fomos andando até o lugar de onde saíam os ônibus especiais, já nos preparando psicologicamente pra voltar pra casa e assistir pela TV!

Chegamos na Cidade do Rock e pra meu desespero as pessoas paravam a gente e perguntava,: tem ingresso sobrando? PUTAQUEOPAREEEEEEO, FOOOODEEEEEEEEEEEOOOOO!  Como assim, Bial? Cadê aquele bando de cambista que fica perguntando se queremos comprar ingressos? Alguma coisa estava MUITO fora da ordem. Bateu desespero. Deu vontade de chorar. Eu andava e via imbecis com cartazes escritos COMPRO INGRESSOS, inflacionando de maneira absurda o mercado (gente burra é issaê).

Daí eu tive uma idéia, um plano infalível: eu ia chegar no cambista filho duma ronquifuça, que estava cobrando, pra começar, R$400,00 por ingresso, e ia dizer que eu era da puliça. “mermão, ou tu me vende essa porra (que puliça aqui no Rio fala co’essa delicadeza mesmo) pelo preço oficial, ou tu vai em cana. E se eu tiver que dar carteirada, é pra te levar pro xadrez!”. Não ia dar certo? Pois é, mas não fiz isso não! =/ (cê vê que eu sou moça honesta, eu nem queria o ingresso de graça, eu só queria pagar um preço razoável)

Lá pelas tantas, o mocinho credenciado, que tava vendendo cerveja (e ingresso), me ofereceu 2, por R$280,00 cada. Eu e Ricardo havíamos estipulado que pagaríamos, no máximo, R$250,00 por cada, mas do jeito que a coisa estava indo, topamos por R$280,00 mesmo.  Ricardo foi pro cantinho pra contar a grana (ai, o mercado negro) e nesse ínterim é que veio minha antepenúltima agonia: chegou um cara e ofereceu R$300,00, e o cara da cerveja me dá a péssima notícia de que ia vender pra ele. Minha gente, incorporei a baiana: COMO ASSIM, AMIGO? PORRA, TEM QUE TER PALAVRA, CACETE! ISSO NÃO SE FAZ NÃO, E… Meu tom de voz foi aumentando de tal maneira que ele resolveu me vender por R$280,00 mesmo, antes que chegasse a puliça (que duvido que não tava ganhando um por fora pra fingir que não tava vendo o mercado negro em ação) e ele não vendesse marnada!

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Com os igressos em nossas mãos, e menos R$560,00 no bolso, veio a questã: E SE ESSA PORRA FOR FALSA? Eis a maior agonia da noite, meu povo! E, pra piorar a agonia, ni qui a gente plha pro lado, cadê o puto que me vendeu o ingresso? Sumiu! Com carrinho de cerveja e tudo! /o\  Potaqueoparêo! Barriga gelou, boca secou e nós enfrentamos uma caminhada difícil até a roleta. “E se for falso?”, “Magina, deixar essa grana toda e não entrar!”, “Ai, meodeos”, “Amor, e se for falso?” (com cara de choro mode ON), e assim fomos até chegar na roleta e, ufa… ENTRAMOOOOOOOOOOS! E nos abraçamos e começamos a pular, como se fosse gol da seleção brasileira numa final de Copa do Mundo! Como se fosse não, foi gol! GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL, PORRAAAA! TODOS COMEMORA!!!

Daí fomos encontrar alguns amigos e beber na Rock Street (pô, Medina, em ingrêis? Carecia não, fiote!), pra fugir dos Detonautas, porque, né, tudo nessa vida tem limite!

Papo vai, papo vem, ninguém queria ver Pitty, nem Evanescence mesmo, vamos pra fila da roda gigante! Tranquila e tal, andou até rápido, mas, adivinhem: minha bexiga – amiga da onça -  começou a encher, encher, encher (e só, pq se ela fosse boazinha, ela aguentaria mais uns três ou quatro “encher”) e eu abortei a missão, a uns 10 metros da minha vez! /o\ Ricardo também teve o mesmo problema e ficamos de fora do brinquedo!

 

Voltamos pra Rua do Rock (Rock Street de cu é rola, rapá) e ficamos até o final do show do Evanescence. Pô, tava rolando Janis e o escambau no coretinho, banheiro funfando legal, chopp geladinho, tudo redondo, pra que é que eu ia encarar multidão cedo demais?

Quando terminou Evanescence decidimos que era hora de avançar em direção ao palco. Intervalo de show é bom pra fazer isso, porque a galera dá aquela desertada pra fazer xixi, tomar um negócio, sentar um bocadinho… E aí começou o show do System of a Down.

Mozamigos, que porra foi aquela? Rapá, o show desse povo não tinha fim, um show infinito, um troço que não acabava nunca, e eu já de saco cheio de ouvir aquele porradão tocando na minha orelha. E quanto mais eu achava que já tava demais, mais eles tocavam, e eu fui pra preimaira parte da minha última e derradeira agonia da noite: “Gente, esses caras tão enchendo lingüica (trema, eu te amo! trema, eu te amo!), já era pra esse show ter acabado faz tempo! Deu merda! O Axl fez alguma merda (ele sempre faz, tá no histórico) e nego tá tentando ganhar tempo! Ai, meodeos, não vai ter mais Guns, quer ver?”. E pensa que minha agonia acabou com o último (e melhor, exatamente por ser o último) acorde do System of a Down? Porra nenhuma… porque depois do show da banda que tendeu ao infinito, veio a espera infinita, e debaixo de chuva! “Cacete, tá chovendo,´o dizinfiliz vai dizer que não toca na chuva!”. E entrava roadie, saía roadie, e vinha um povo secar o palco, só que a chuva só aumentava e,  pra ajudar, tinha uma turminha mineira tão simpática na minha frente (NOT). Porra, os moleques arrumaram umas caixas, fizeram um telhadinho em cima das suas cabeças e esticaram a bandeira mineira em cima. Cês tão entendendo que a mineirada fez um puxadinho em pleno gramado (sintético, é bom esclarecer), e exatamente na minha frente? Grrrrrr…

Com uma hora e meia (porra, Axl, enfia esse teu estrelismo no cu) de atraso (isso sem contar o atraso que já havia sido comunicado durante o dia), começou o show do Guns.  Meu coração disparou, meu zói marejaram e… E aí, povo, só no próximo post, que fica depois, porque, ó, eu tô destruída (Axl, SEU LINDO, tamo junto!) e esse post já tá grande demais e eu já começo a me perguntar se alguém vai ler!

 

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Alguma coisa está fora da ordem

5 ago

E hoje a novela das 21h, Insensato Coração, da Rede Globo,  mostrou um assassinato homofóbico. Não deixa de ser um ponto positivo na luta pelo combate à homofobia, mas uma questão tá me deixando com a pulga atrás da orelha; reparem na reportagem abaixo, da Folha de São Paulo (tá,  gente sabe que essa  fonte não é das mais confiáveis, mas saiu em váaarios outros jornais, é só dar uma googlada!)

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Vamos repetir um trechinho:

Procurada, a Globo, via assessoria, diz que a televisão é um veículo de massa que precisa contemplar todos os seus públicos e faz parte do papel da direção zelar para que isso aconteça.

 

Ok, são os famigerados valores da família (e eu queria saber muito da família de quem, porque da minha é que não são. Na minha família costuma-se respeitar as diferenças, a não destilar ódio, preconceito e intolerância por aí. E mais, na minha família luta-se contra todas essas coisas. Então, cara-pálida, de que família são esses valores?)

Voltemos à pulga que habita a parte de trás da minha zoreia:

Beijo gay não pode, um relacionamento amoroso, sério, entre gays não pode, mas assassinato de gay pode? Isso tá de acordo com os valores da família? Amor a sociedade não aguenta, não contempla todos os públicos… e assassinato homofóbico? Aí pode? Aí a galera assiste sem problemas?

Ai, gente, isso não tá certo não. E digo mais: tá é tudo errado! Tá fora da ordem, fora do eixo, fora da minha capacidade de compreensão. Amor é proibido, assassinato é liberado. Alguém me explica, por favor, que eu não tô ‘einteindeindo’. Mas explica desenhando, que eu prevejo grande dificuldade de compreensão.

Que a cena sirva, ao menos, para alimentar a discussão sobre a homofobia, mas que eu acho lastimável que um assassinato seja melhor aceito que um beijo, uma demonstração de amor, eu acho mesmo.

Dia da Vergonha Heterossexual

2 ago

Hoje, dia 02 de agosto de 2011 o Brasil ganhou o seu Dia da Vergonha Heterossexual. Porque eu tô com vergonha, com muita vergonha de ser hetero hoje!

DOH

Né pra morrer de vergonha?

Pra quié, alguma alma piedosa me explique, essa necessidade de afirmação hétero? Naonde que hétero é gente que sofre, gente oprimida, gente que precisa de um dia pra dizer: Ei, eu existo e exijo respeito? Naonde, me fala? Quando que um heterossexual apanhou por ser hétero? Ou foi xingado só por isso? Quando um hétero perdeu seu emprego, foi acusado de ser pedófilo, foi xingado de aberração, foi expulso de casa, virou motivo de chacota ou sofreu bullying na escola apenas pelo fato de ser hétero?  Porque diabos a parte opressora quer um dia pra ela? Uma mariola e um beijo estalado pra quem respondeu: pra oprimir mais!

E agora? Cumé que eu vou sair de casa com essa vergonha medonha que eu tô sentido por ser heterossexual?

Cês têm certeza que esse negócio de opção sexual não existe mesmo? Jura? Porque, ó, deu vontade de virar sapa depois dessa, viu?

Ai, que vergonha!

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Vamos aguardar a criação do Dia do Orgulho Branco… Não há de tardar!

Pela legalização do aborto

1 ago

Originalmente postado em 28 de setembro de 2010, no meu finado blog “É com esse que eu vou!”

28 de setembro: unidas pela legalização do aborto

Lendo o artigo Legalizar o Aborto, de Túlio Viana, na Revista Fórum (edição online) tomei conhecimento de que hoje, 28 de setembro de 2010, mulheres latinoamericanas se unem para lutar pelo direito de abortarem de forma segura e com respaldo na lei de seus respectivos países. E resolvi, por meio deste blog, que é a minha ferramenta de comunicação com o mundo, entrar nesta luta.

Legalizar o aborto é questão de saúde pública, e não mais que isso. Já li e ouvi várias pessoas dizendo que se o aborto for legalizado será usado indiscriminadamente como método contraceptivo. Já começaram errando em chamar aborto de método contraceptivo, já que aborto só pode aconteder depois da concepção, não é? Não há como înterromper uma gravidez que ainda não existe. Dá pra evitar. Aí sim se usa métodos contraceptivos. Tendo sito este ponto, óbvio e simples, entendido, vamos ao segundo ponto: a decisão de abortar nunca é fácil. Sei porque a maioria das minhas amigas já o fizeram e eu vi a agonia antes da decisão e pós aborto. Não é fácil. Todas, sem exceção, ficaram tristes, debilitadas emocionalmente e, dentre elas, a maioria não se arrependeu. Não era o momento de serem mães, elas não estavam preparadas e, segundo elas, tomaram a melhor decisão no momento, mesmo sendo a mais difícil. Mulher nenhuma entra ou sai feliz de uma clínica de aborto. Isso é um fato que não dá pra ser contestado.

Nenhuma mulher que esteja determinada a abortar vai deixar de fazê-lo por ser ilegal. É aí que entramos no mérito efetivo da questão. Mulheres pobres são atendidas em clínicas clandestinas precárias, sem higiene, sem todo um aparato médico necessário para que o procedimento seja feito sem riscos à sua saúde. Isso quando vão à clínicas. Muitas das vezes fazem isso sozinhas, em casa, ou introduzindo objetos na vagina, ou se auto medicando. Mulheres ricas pagam caro pelo serviço bem feito, em clínicas bacanas, hospitais e até mesmo em maternidades. A não legalização do aborto, portanto, além de não interferir em nada na decisão da mulher sobre interromper ou não sua gravidez, só vem a prejudicar a parcela mais pobre da população.

Trancrevo trecho do artigo supracitado:

Uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP) constatou que, entre 1995 e 2007, a curetagem pós-aborto foi a cirurgia mais realizada no Sistema Único de Saúde (não foram levadas em conta cirurgias cardíacas, partos e pequenas intervenções que não exigem a internação do paciente). Foram 3,1 milhões de curetagens e estima-se que a maioria delas sejam decorrentes de abortos provocados. (…)

Ainda que não optem pelo procedimento cirúrgico, as mulheres de melhor condição socioeconômica têm um acesso muito mais amplo a informações sobre como realizar o auto-aborto de forma relativamente segura. Há vários sites internacionais dedicados a esclarecer às mulheres dos países onde o aborto ainda é proibido como utilizar medicamentos para este fim. No International Consortium for Medical Abortion , por exemplo, há informações de como usar o remédio Cytotec (Misoprostol) em conjunto com o Mifiprex (Mifepristone), de forma a tornar o procedimento um pouco mais seguro e menos doloroso.

Para a maioria das mulheres brasileiras, porém, este tipo de informação ainda não é acessível e elas acabam adquirindo o Cytotec no mercado paralelo e “aprendendo” como usá-lo com o próprio vendedor que, em geral, não possui qualquer conhecimento médico. Sem informação, utilizam o Cytotec sem qualquer outro medicamento, obrigando a uma dosagem maior, diminuindo as chances de sucesso e tornando todo o procedimento mais arriscado e doloroso. Por se tratar de um comércio ilegal, sem qualquer tipo de controle por parte da Anvisa, há ainda o sério risco de adquirir um produto falsificado.

Outra significativa parcela de mulheres pobres opta por realizar o aborto por procedimentos de curetagem ou sucção em clínicas clandestinas, sem as mínimas condições de higiene e infraestrutura. São procedimentos bastante arriscados para a vida e saúde delas e muitas acabam sendo socorridas nos hospitais do SUS, após abortos mal sucedidos. As complicações não raras vezes levam à morte, sendo o aborto a terceira causa de morte materna no Brasil, segundo pesquisa do IPAS.

Até a 12ª semana de gestação o feto é desprovido de cérebro, portanto de qualquer pingo de vida (como bem lembra Tulio Viana, em seu artigo, se quando o cérebro de uma pessoa pára a consideramos morta, porque antes do cérebro existir a consideraríamos viva?). Ao contrário do que dizem, o feto não sente dor. O feto não sente, e ponto. É uma semente que ali está, pronta para ser germinada. Ou não.

Há os que aceitem o aborto apenas nos casos previstos por lei. 1) em gravidez oriunda de estupro; 2) em casos de risco de vida da mãe.

Art. 128 – Não se pune o aborto praticado por médico:

Aborto necessário
I – se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Estes costumam, hipocritamente, dizer que são absolutamente contra o aborto, porque isso significa o assassinato ‘de um inocente’. Sempre pergunto à essas pessoas que culpa tem o ‘bebê’ se a mãe dele foi estuprada? Ele deixa de ser inocente por isso? Normalmente não há resposta! Ou é assassinato ou não é. Os hipócritas que se resolvam com isso. Pra mim não é, em caso algum.

Com religiosos não discuto. Não admito que me prendam em crenças que não são minhas. Um Estado laico deveria (mas não o faz) ignorar por completo os apelos dos religiosos e pensar somente na questão da saúde pública. Impôr a  cidadãos regras de crenças que não são compartilhadas por todos é absurdo e inconstitucional.

“Art. 19 – É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público; (…)”

Sou mãe de um bebê de 7 meses*, lindo, esperto, inteligente. Ele foi fruto de uma gravidez planejadíssima, estudadíssima. Veio porque estávamos prontos para a sua chegada, para recebê-lo como ele mereceu ser recebido. Se eu abortaria caso engravidasse em condições adversas? Não sei. Acho que não, mas não sei dizer com firmeza, com certeza. Acho que isso a gente só resolve na hora, vivendo a questão. Tenho uma amiga que tinha certeza que faria o aborto até a hora que o ginecologista colocou as luvas. Na hora H, desistiu. Não há regra. Não é porque sou à favor da legalização do aborto que faria um. Como também há quem seja absurdamente contra até ver que, por mais difícil que seja, abortar – para ela – naquele momento específico, é a melhor opção, ou a menos pior; como queiram.

Ninguém é à favor do aborto em si, por ser um processo dolorido, em todos os casos, em todos os âmbitos. Nenhuma mulher, como já disse anteriormente, sonha em fazer um aborto ou vai fazê-lo feliz da vida. É escolha das mais difíceis, se não a mais difícil de todas as decisões que uma mulher pode tomar. O que se defende é a legalização do aborto, é a assistência médica garantida a todas as mulheres que optarem por fazê-lo. Legalizar o aborto não é obrigar o aborto, portanto, quem não quiser fazê-lo, seja por qual motivo for, não o faça. Não parece mais justo?

A gravidez se dá dentro do corpo da mulher. Querer impedi-la de escolher se leva ou não adiante uma gravidez é tirar dela todos os direitos sobre o próprio corpo. E não evita que se realize o aborto, só o transforma em risco de vida para quem opta por ele.

 

*hoje meu filho tem 1 ano e 5 meses

Me corrijam se eu estiver errada…

31 jul

No post sobre o censurado A Serbian Film, o blogueiro Lucas dos Santos iniciou seu comentário com a seguinte frase:

“O texto está cheio de erros gramaticais, porém não comentarei neste viés!”

Pô, o Lucas perdeu uma excelente oportunidade de dividir seu conhecimento. E conhecimento não vale de muita coisa quando não passamos adiante, não é mesmo?

Logo depois de ler o comentário do Lucas eu achei um dos tantos erros que cometi. Eu sempre me enrolo com o danado do verbo assistir. Então vamos transformar o comentário  do Lucas em alguma coisa útil e acabar de uma vez por todas com a confusão (ou não).

(sim, esta sou eu, fazendo às vezes d’ A Madrasta do Texto Ruim, claro que sem metade do charme e da competência daquela bruxa fofa)

Fala aí, Houaiss:

ASSISTIR

n verbo

transitivo indireto
1    estar presente (a determinado fato, ocorrência etc.); presenciar
Obs.: ver gram/uso a seguir
Ex.: a. ao acidente

transitivo indireto
2    ver e ouvir (um espetáculo, concerto etc.)
Exs.: a. ao show
a. à missa

transitivo direto e transitivo indireto
3    acompanhar (enfermo, moribundo etc.) para prestar-lhe socorro
Ex.: a. o (ou ao) doente

transitivo direto, transitivo indireto e intransitivo
4    servir de parteira
Exs.: a. a (ou à) parturiente
há anos que não assiste
transitivo indireto

5    prestar auxílio ou assistência a; ajudar, socorrer
transitivo indireto

6    ser da competência ou atribuição de (alguém); caber, competir
Ex.: diante do ocorrido, assiste-lhe o direito de reclamar
transitivo indireto

7    acompanhar, esp. em ato público, na qualidade de ajudante ou assessor
Ex.: a. ao governador na inauguração do museu

transitivo indireto
8    residir, morar
Ex.: assiste em Bali

transitivo indireto
9    estar, permanecer
Ex.: a alegria assiste em seu coração

transitivo direto
10    Rubrica: basquetebol, futebol.
passar a bola a (outro jogador da própria equipe), deixando-o bem colocado para fazer a cesta ou o gol

 

Houaiss, todavia, abre um parêntese: no Brasil, é comum o uso deste verbo como t.d.: assistir o filme’; o que me faz me sentir um pouco menos burrinha. Pode não ser norma culta, mas é norma popular. E como vocês já puderam notar, no meu blog a norma popular reina, porque eu escrevo do jeitinho que eu falo. A norma culta eu deixo pra quando preciso escrever algum texto acadêmico ou mais sério, e sempre peço ajuda pra quem sabe mais que eu.

O verbo ASSISTIR foi explicado, e espero que tenha sido entendido também.

Agora eu quero aproveitar a deixa do Lucas pra pedir a todos vocês, que lêem o meu blog: me corrijam sempre que encontrarem uma coisa errada (façam isso com menos empáfia que o nobre coleguinha, que do jeito que ele fez ficou bem antipático – embora eu não fosse assim, tão nariz em pé, aos 16, entendo que isso é coisa da idade). Eu gosto mesmo quando me corrigem, de verdade. Eu não sei todas as coisas, nem pretendo sabê-las, mas quero saber o máximo de coisas que eu puder. Conto com vocês. Estamos combinados?

UPDATE:

E minha amiga, Vânia Lacerda, depois de ler o post, me mandou um e-mail com a seguinte mensagem:

Ju,

o Lucas, em sua arrogância, esqueceu que todos temos telhado de vidro.

Citou que em seu texto havia erro, sem apontar nenhum, com a fala:
“O texto está cheio de erros gramaticais, porém não comentarei neste viés!”

Daí, descuidou e nem percebeu que também errou ao utilizar o pronome demonstrativo em desacordo com a norma culta de nossa língua portuguesa.

Há varias regras para o uso dos demonstrativos e uma delas é com relação ao discurso, a saber:

usamos “esse, isso” quando nos referimos a algo já mencionado, como, por exemplo, em: “Remédios fazem mal e é sobre ISSO que os médicos falam na reportagem”.

Com relação ao que ainda será mencionado, aí, sim, usamos o “este, isto”. Assim: “É ISTO que é recomendado: estudar sempre!”.

Então, partindo-se dessas regras, a frase do Lucas estaria correta se fosse:
“O texto está cheio de erros gramaticais, porém não comentarei NESSE viés!”, já que o viés dos erros gramaticas já havia sido mencionado.

O lamentável não são os seus erros ou os dele, já que a língua portuguesa é cheia de detalhes que pra pouco servem e sempre acabam confundindo, mas chegar com a empáfia e antipatia demosntradas fica bem feio. Além de ser totalmente desnecessário, né?

beijo

Vania

Ixi, Lucas… FUÉEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEN!

‘A Serbian Film’ que nada, o papo aqui é CENSURA!

29 jul

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Eis que eu acabei (neste minuto) de assistir o censurado (oi?) A Serbian Film – Terror sem limites. Assisti inteirinho, a versão original, sem cortes e… que filme ruim! Pooootaqueopareeeeo! Tirando a cena que sugere o estupro de um recém-nascido (dá uma certa agonia, porque embora não mostre, a gente imagina a coisa acontecendo, aí o estômago dá uma ligeira embrulhada  – e quem vos escreve é uma pessoa que, no pós parto, tinha pesadelos diários com isso!), e uma cena do final (essa foi punk,  nessa eu chorei), o filme é só bizarro, no sentido pejorativo, e enfadonho. Perdi as contas de quantas vezes olhei pro relógio pra ver se ainda faltava muito pra acabar. Jing Saw e seus Jogos Mortais me fizeram ter muito mais vontade de mudar o DVD e assistir Mary Poppins, pra aliviar a tensão.

Então, o filme é ruim pacas e eu não recomendo, mas o papo aqui é outro e o buraco é mais embaixo:

CENSURARAM O FILME!

E censuraram  sem assistir (oh, que mico pagam essas criaturas! Se elas assistissem, morreriam de vergonha.). Censura prévia, minha gente! Tô podendo com um negócio desses em pleno décimo primeiro ano do século vinte e um?

Há dois dias, saiu n’O Globo uma matéria sobre a censura (que einda era só para o estado do Rio – hoje ela é nacional), que mostra bem o nível das pessoas que decidiram escolher o que eu posso ou não posso assistir. Saca só (grifos e comentários meus):

Não quero entrar no mérito do filme, nem assisti a ele – diz Santos. – Mas somos uma empresa que precisa ter cuidado ao relacionar sua imagem com um filme que trata de pedofilia. É um tema pesado, e achamos melhor cancelar a exibição. (Clauir Luiz Santos, uperintendente de comunicação e marketing do Caixa Cultural)

[ô bacana, tu nem viu o filme, como vem falar que ele trata de pedofilia? Não, não trata, mané. O tema do filme é outro. FUÉEEEN! E, desde quando não pode ter filme que trata de pedofilia? Ixi, tem um monte por aí falando sobre o assunto, e eu mesma já assisti um bocado, E outra coisa, pateta, um filme que trata de pedofilia é absurdamente diferente de um ‘filme pedófilo’ FUÉEEEEEEN, de novo!]

Prossigamos…

Também sem ter assistido ao filme – que está vetado na Noruega, rendeu um processo ao diretor do festival que o exibiu na Espanha, e só foi liberado no Reino Unido após 49 cortes -, o ex-prefeito Cesar Maia e seu filho, o deputado federal Rodrigo Maia, acionaram na semana passada uma equipe de dez advogados para que, em nome do Democratas (DEM), partido que integram, fosse movida uma ação civil pública na Justiça do Rio para impedir a exibição da fita, sábado passado, no Odeon (sessão especialmente agendada depois do veto da Caixa).

– Saber que há cenas de estupro de crianças e até de um recém-nascido me levou a pedir a liminar que determinou o recolhimento da fita – diz Cesar Maia. – Isso (o filme) fere os valores das famílias e o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Até esta terça-feira, no entanto, nem Cesar nem Rodrigo Maia haviam assistido a "A Serbian film". Reconheciam ter recorrido à via jurídica apoiados apenas nas leituras feitas sobre o assunto na internet.

[PÁ-RA TU-DO! Eu entendi bem? É o César Maia querendo meter o bedelho no que eu posso ou não assistir? O CÉSAR MAIAAAAA? Desde quando o César Maia tem moral pra dizer qualquer coisa sobre os valores das famílias? (me coço toda vez que ouço/leio essa expressão) 0_O Sobre valores eu até sei que ele entende bem, mas são outros, são outros… Quiquei na hora que eu soube disso, vocês podem bem imaginar, néam? E eu tô procurando até agora onde diabos o filme fere o ECA, já que o recém-nascido era um robô e nenhuma criança estava presente quando foram gravadas as cenas de sexo, e o filme é proibido para menores de 18 anos. E, vem cá, RECOLHIMENTO DA FITA??? Não só censuraram como apreenderam o material? Cêjura? Socorro!!! Que ano é hoje?]

Tem mais…

A equipe de dez advogados liderados pelo especialista em Direito Constitucional Victor Travancas redigiu a ação civil pública também sem ter assistido ao filme, assim como a juíza Katerine Nygaard, que acatou a peça e assinou uma liminar determinando a suspensão da obra e seu recolhimento para análise judicial.

É nobre advogar contra a pedofilia – diz Travancas. – A liberdade de expressão acaba quando começa a pedofilia. Eu não vi o filme ainda porque não recebi uma cópia, e acho que não preciso ver.

[CA-RA-LHO! Quem disse isso foi um especialista em direito constitucional? Eu entendi bem? Então é constitucional censurar um negócio sem conhecer seu conteúdo, na base do disse-me-disse? SOCORRO!!! E o pulha ainda se julga tão acima do bem e do mal que acha que nem precisa ver a porra do filme que ele quis e conseguiu censurar??? MAS QUE MERDA É ESSA? Jisuismariajosé, naonde que esse filme incita pedofilia? Se esse filme ruim tem algum mérito é causar ainda mais repulsa à pedofilia, Ele faz exatamente o contrário do que essa gente sugere! É o contrário, animal!]

Tá bom, né? Deu pra ter uma noção do que é que tá acontecendo. O povo tá mandando ver na canetada sem nem ter assistido o filme. Olha, gente, né por nada não, mas isso é um perigo danado.

Eu assisti o filme, ao contrário dos censores supracitados (porque eu não falo do que eu não vi). Tudo o que eles dizem sobre o filme é mentira. Não é um filme pedófilo. A porra do filme em momento nenhum diz que é  bacana pacaralho estuprar criancinhas (já um ‘filme pedófilo’ teria essa leitura). Nas duas vezes que o filme sugere que isso acontece, fica bem clara de quão doentia e asquerosa é situação. Dá nojo. Mas sabe o que essa censura imbecil faz parecer? Que sairíamos todos do cinema, ávidos por estuprar recém-nascidos! 0_O Isso, pra essas pessoas somos todos estupradores em potencial, esperando o primeiro filme pra darmos início à nossa caçada! Ah, gente, faça-me o favor.

Quem aqui tentou pular da janela depois de assistir SuperMan? Ou montou um galpão cheio de máquinas de tortura depois de assistir Jogos Mortais? Quem diabos cozinhou um banquete depois de assistir A Festa de Babette? Eu não me droguei e nem me prostituí depois de assistir  e de ler Cristiane F., eu sequer tive vontade de dançar depois de assistir Flashdance, porra! Porque eu haveria de virar pedófila (ai!) depois de assistir A Serbian Film? Olha, nem atriz pornô eu tô pretendendo, viu?

O que me deixa mais agoniada com essa censura é que ela abre precedentes. Hoje censuram um filme violento, dizendo que ele incita a pedofilia. Amanhã censurarão um filme político, dizendo que ele é inflamado demais. E depois de amanhã estaremos publicando receitas nas capas dos jornais.

Eu nem quero que ninguém assista o filme, ele é ruim mesmo, mas eu queria pedir pra que nos engajássemos seriamente numa campanha contra essa censura estapafúrdia! Não tem cabimento, e tem cheiro de perigo… E pode ser muito mais violenta do que qualquer filminho pretensioso.

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* a matéria comentada nesse texto saiu daqui!

Velha é a mãe!

25 jul

 

Máscaras 065[11]

Entro na loja de ferramentas. Um rapazinho de, no máximo, dezoito anos me atende.

– Bom dia, eu tô precisando de uma chave philips, mas não sei dizer qual tamanho. É pequena, fininha…

– Essa aqui serve, senhora?  -  o ‘senhora’ doeu, mas eu respirei fundo, analisei a ferramenta (Sem trocadilho. Grata!).

– Não… precisava de uma menor. Sabe aquelas que a gente usava pra abrir fita k7 quando embolava? – Pronto! Justifiquei o ‘senhora’!

– Errr… não senhora, eu nunca usei uma fita k7… 

 

FIM.

 

 

*foto tirada na aula de maquiagem artística, em 2009

Ai, Chico…

20 jul

Como é de conhecimento geral da nação, Chico Buarque é o meu pastor e nada me faltará, e não tenho escrúpulo em confessar. Não adianta, de mim ninguém vai ouvir qualquer crítica a ele. Eu mesma já desisti de ser racional quando ele é o assunto. Sou apaixonada, e é visceral.

Amo tanto Chico que me apavora a ideia de um dia, assim, sem mais nem menos, dar de cara com ele. Acho que nunca quero vê-lo (pra não fazer feio, não ficar com cara de panqueca na frente dele), e talvez por isso nunca tenha me empenhado a atravessar um quarteirão pra chegar ao campo do Politheama. Porque, vamocombiná, o que eu falo pra ele? “Chico, eu te amo!”? Não, né? Mas é só o que vai sair, isso se eu tiver voz. Melhor não.

Eu sempre quis escrever sobre o Chico. Sobre como, aos 8 anos, me apaixonei perdidamente por ele, e ouço desde então, quase todos os dias da minha vida. Nunca consegui. E não vai ser hoje. Um dia o texto sai.

Hoje escrevo para contar, pra deixar registrado, que meu disco chegou ontem, e que hoje, no meio da tarde, eu pude assisti-lo ao vivo pela web, num mini pocket show, onde ele falou um pouco e cantou duas músicas lindas (Sinhá e Nina) do novo CD. E que isso me fez muito feliz e que eu tô suspirando até agora, em estado de graça.

Parece bobagem, e deve ser mesmo.

Ai, Chico…